Agostinho Fineza,<br>um comunista dedicado que<br>o fascismo assassinou

CENTENÁRIO O mi­li­tante co­mu­nista Agos­tinho Fi­neza, as­sas­si­nado a tiro pelo fas­cismo nas ma­ni­fes­ta­ções do 1.º de Maio de 1963, nasceu há cem anos na Ri­beira Brava, Ma­deira. O PCP não es­quece os seus már­tires.

Agos­tinho Fi­neza tinha 43 anos quando foi as­sas­si­nado

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A his­tória de Agos­tinho Fi­neza, como a de muitos ou­tros co­mu­nistas, de­mo­cratas e an­ti­fas­cistas por­tu­gueses, é a de um povo es­ma­gado pela mi­séria, a opressão e o obs­cu­ran­tismo fas­cistas, em que qual­quer ex­pressão de des­con­ten­ta­mento ou re­volta era se­ve­ra­mente es­ma­gada. Tal como Al­fredo Lima, em 1950, Ca­ta­rina Eu­fémia, em 1954, José Ade­lino dos Santos, em 1958, Cân­dido Mar­tins, em 1961, e, em 1962, An­tónio Adângio e Es­têvão Giro, também Agos­tinho Fi­neza tombou à frente de uma ma­ni­fes­tação de tra­ba­lha­dores onde se exigia pão, li­ber­dade e paz, va­rado pelas balas as­sas­sinas das forças re­pres­sivas.

A estes már­tires juntam-se muitos ou­tros, as­sas­si­nados na tor­tura, em co­bardes em­bos­cadas ou sim­ples­mente dei­xados morrer graças às más con­di­ções pri­si­o­nais e por falta de as­sis­tência mé­dica: Ma­nuel Vi­eira Tomé, José Mo­reira e Ger­mano Vi­digal en­con­tram-se no pri­meiro lote, en­quanto Fer­reira So­ares, Al­fredo Dinis e José Dias Co­elho são exem­plos mai­ores do se­gundo. Bento Gon­çalves e Al­fredo Cal­deira, como os res­tantes presos as­sas­si­nados no Tar­rafal – cujo mé­dico ga­rantia ter como função passar cer­ti­dões de óbito e não curar – per­ma­necem como exem­plos da per­fídia do fas­cismo por­tu­guês, que muitos hoje se es­forçam por re­cu­perar, ape­li­dando-o de re­gime «pa­ter­na­lista» ou «con­ser­vador». Por mais que tentem apagar ou re­es­crever a his­tória, o que ela com­prova é que em Por­tugal houve fas­cismo – provam-no a sua na­tu­reza de classe, o seu quadro ins­ti­tu­ci­onal, os seus mé­todos.

Mas não são apenas as cir­cuns­tân­cias da morte a apro­ximar Agos­tinho Fi­neza dos res­tantes re­sis­tentes atrás enun­ci­ados. A sua de­di­cação de sempre à causa da li­ber­tação do povo por­tu­guês do fas­cismo e da eman­ci­pação da classe ope­rária, da qual pro­vinha, também são co­muns.

Vida de luta

Nas­cido na fre­guesia da Ri­beira Brava, no Fun­chal, a 3 de Abril de 1917, Agos­tinho da Silva Fi­neza era ope­rário ti­pó­grafo e di­vidiu a sua vida entre a Ma­deira e o con­ti­nente. Foi ainda no seu ar­qui­pé­lago natal que aderiu ao PCP, in­te­grando o Co­mité Re­gi­onal.

Des­lo­cado para o con­ti­nente, in­te­grou o seu sector pro­fis­si­onal e a Or­ga­ni­zação da Ci­dade de Lisboa, mas con­ti­nuou em con­tacto com a es­tru­tura par­ti­dária da Ma­deira, quer pelo de­sem­penho de ta­refas re­la­ci­o­nadas com o envio da im­prensa clan­des­tina para a re­gião quer pelo res­ta­be­le­ci­mento do con­tacto entre o Co­mité Re­gi­onal e o Co­mité Cen­tral.

Foi preso cinco vezes, a pri­meira das quais em Agosto de 1948, com de­zenas de ou­tros mem­bros do Par­tido na Ma­deira, pas­sando quatro anos na ca­deia. Nas duas vezes se­guintes en­con­trava-se ainda em li­ber­dade con­di­ci­onal, não che­gando a ser pre­sente a tri­bunal. Em 1958 dá-se a sua quarta prisão, quando par­ti­ci­pava nas co­me­mo­ra­ções do 5 de Ou­tubro. A sua quinta e úl­tima prisão ocorreu em Junho de 1959, acu­sado de im­primir e di­vulgar «im­prensa sub­ver­siva» e de par­ti­cipar em ac­ti­vi­dades contra o go­verno, tendo sido li­ber­tado em Fe­ve­reiro do ano se­guinte. Pe­rante a po­lícia teve sempre uma pos­tura firme, che­gando mesmo a re­cusar uma pro­posta de li­ber­tação sob com­pro­misso por não re­co­nhecer a au­to­ri­dade da PIDE. No total, es­teve preso cinco anos.

Rumo à vi­tória

No início dos anos 60, quando Agos­tinho Fi­neza foi as­sas­si­nado, o fas­cismo ca­mi­nhava a passos largos para o seu fim. Na de­cor­rência da fuga de Pe­niche – que de­volveu à li­ber­dade Álvaro Cu­nhal e ou­tros nove des­ta­cados di­ri­gentes e mi­li­tantes co­mu­nistas –, a luta de massas de­sen­volveu-se de forma im­pe­tuosa. O 1.º de Maio de 1962 e a con­quista da jor­nada de oito horas nos campos do Sul foram das mai­ores ac­ções de luta al­guma vez re­a­li­zadas no Por­tugal fas­cista. O início da guerra co­lo­nial abriu uma nova e par­ti­cu­lar­mente ampla frente de opo­sição à di­ta­dura.

Em 1963, o 1.º de Maio voltou a ser uma «grande jor­nada», como ti­tulou o Avante!, mar­cada pela in­tensa ac­ti­vi­dade das forças re­pres­sivas – quer antes, pren­dendo ope­rá­rios «pre­ven­ti­va­mente», quer du­rante, dis­pa­rando ra­jadas de me­tra­lha­dora, como a que matou o ti­pó­grafo co­mu­nista. No en­tanto, re­alça ainda o Avante!, a re­pressão «não pôde im­pedir a acção do povo», que exigiu li­ber­dade e am­nistia.

Daí em di­ante, com avanços e re­cuos, a luta de massas nunca mais cessou, cor­ro­endo a mu­ralha fas­cista, que se des­mo­ronou a 25 de Abril de 1974. A con­quista da li­ber­dade e os avanços po­lí­ticos, eco­nó­micos, so­ciais e cul­tu­rais da Re­vo­lução de Abril têm a marca dos que, como Agos­tinho Fi­neza, deram o me­lhor das suas vidas – e mesmo a pró­pria vida – para que fossem pos­sí­veis.




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